Projeto Individual de Leitura
Depois de conhecermos a Quimera, o monstro híbrido de três animais, recorremos hoje ao herói mitológico Eneias, para introduzir o tema da peste.
No livro III da Eneida, de Virgílio - As errâncias de Eneias – o herói conta a Dido (rainha de Cartago) a sua viagem por mar e terra para conseguir concretizar o objetivo de fundar uma nova Troia, que havia sido destruída pelos gregos.
Dirigindo-se
para Creta, Eneias vê que as margens desta ilha se encontram abandonadas e
decide aí erigir uma cidade que nomeia Pergameia.
A
cidade parece prosperar, mas eis que, inesperadamente, surge uma epidemia de
peste que deita tudo a perder. Apolo, o deus do sol, ajuda então Eneias e os
seus companheiros a seguirem novo caminho – a Itália (Hespéria) de onde terão
surgido os antepassados da raça troiana.
Já varadas em seco as popas eram;
Cuida-se em bodas, cuida-se em lavouras;
Casas régulo e marco: eis plantas e homens
Salteia a corrupção que infecta os ares,
Triste ano, peçonhento às sementeiras.
Ia-se a doce vida, ou se arrastavam
Corpos a definhar: queimando Sírio
Estéreis agros, ressequidas ervas,
Enfezada a seara o pão negava.
ENEIDA – Virgílio; Livro III
ENEIDA – a obra de Virgílio foi uma das fontes mais relevantes usadas por Camões para a escrita de Os Lusíadas.
Vale
bem a pena conhecê-la!
1ª ATIVIDADE
1. Faz uma breve pesquisa sobre a ascendência divina de
Eneias, o herói da Eneida (de quem era filho?).
2. Pesquisa sobre os amores de Eneias e Dido, revelando o
fim trágico da rainha de Cartago.
A nova sugestão de leitura que agora se apresenta está longe dos longínquos anos da epidemia em Creta, mas o assunto é semelhante.
O romance A Peste foi publicado em 1947, pouco após o fim da
Segunda Guerra Mundial, e conta a história da chegada de uma epidemia a uma
cidade argelina. O personagem principal é um médico, Rieux, que combate a
doença até o momento em que ela se dissipa, depois de muitas mortes. O narrador
descreve como a população reage, indo da apatia à ação, e como alguns se expõem
ao risco para enfrentar a disseminação da peste.
SINOPSE
Uma história arrebatadora sobre o horror, a sobrevivência e
a resiliência do ser humano, A Peste é uma parábola de ressonância intemporal,
um romance magistralmente construído, que, publicado originalmente em 1947,
consagrou em definitivo Albert Camus como um dos autores fundamentais da
literatura moderna.
Assiste ao trailer do filme sobre este livro, gravado em 1992. https://youtu.be/hoh4OgP1ciA
Excertos da obra
Mas, os dias seguiram-se, a situação agravou-se. O número de
roedores apanhados ia crescendo e a coleta era a cada manhã mais abundante. A
partir do quarto dia, os ratos começaram a sair para morrerem em grupos. Dos
porões, das adegas, dos esgotos, subiam em longas filas titubeantes, para virem
vacilar à luz, girar sobre si mesmos e morrer perto dos seres humanos. À noite,
nos corredores e nas ruelas, ouviam-se distintamente os seus guinchos de
agonia. De manhã, nos subúrbios, encontravam-se estendidos nas sarjetas com uma
pequena flor de sangue nos focinhos pontiagudos; uns, inchados e pútridos;
outros, rígidos e com bigodes ainda eriçados. Na própria cidade, eram
encontrados em pequenos montes nos patamares ou nos pátios. Vinham, também,
morrer isoladamente nos vestíbulos das repartições, nos recreios das escolas,
por vezes nos terraços dos cafés. Os nossos concidadãos, estupefatos,
encontravam-nos nos locais mais frequentados da cidade.
Foi mais ou menos nessa época que as pessoas começaram a
inquietar -se com o caso, pois, a partir do dia 18, as fábricas e os depósitos
vomitaram centenas de cadáveres de ratos. Em alguns casos, foi necessário
acabar de matar os bichos, pois a sua agonia era demasiado longa. Mas desde os
bairros, exteriores até o centro da cidade, por toda a parte onde o doutor
Rieux passava, por toda a parte onde os nossos concidadãos se reuniam, os ratos
esperavam em montes, nas lixeiras ou junto às sarjetas, em longas filas. A
imprensa da tarde ocupou-se do caso a partir desse dia e perguntou se o
município se propunha ou não a agir e que medidas de urgência tencionava adotar
para proteger os seus munícipes dessa repugnante invasão. O município nada
tinha proposto e nada previra, mas começou por reunir-se em conselho para
deliberar. Foi dada a ordem ao serviço de desratização para recolher os ratos
mortos todas a madrugadas. Em seguida, dois carros do serviço de desratização
deveriam transportar os animais até o forno de incineração de lixo a fim de
serem queimados.
''A quantidade de ratos parecia aumentar exponencialmente.
Os ratos começaram a ser queimados. Em um único dia, oito mil ratos foram
coletados e encaminhados para a cremação. A cidade entrou em pânico. As pessoas
sofriam com muita febre, e as mortes multiplicavam-se. Decretou-se um “estado
de praga”. Os muros da cidade foram fechados. Iniciou-se a quarentena. Famílias
foram separadas. Os mais doentes foram conduzidos para outros pontos da cidade.
O padre local fez um inflamado sermão dizendo tratar-se de um castigo divino e
que a cidade o merecia. Estavam sofrendo. Mas mereciam, dizia o padre.
Prisioneiros eram usados para movimentar e enterrar cadáveres. Os corpos
amontoavam-se nas ruas. Crianças morriam. O padre ainda achava que tudo
decorria dos planos divinos. Afirmava que os cristãos deveriam aceitar o
destino. O padre morreu.''
Os doentes morriam longe da família, e tinham sido proibidos os velórios rituais, de modo que os que morriam à tardinha passavam a noite sós e os que morriam de dia eram enterrados sem demora. Naturalmente, a família era avisada, mas, na maior parte dos casos, não podia deslocar-se por estar de quarentena, se tinha vivido perto do doente. No caso de a família não morar com o defunto, apresentava-se à hora indicada da partida para o cemitério, depois de o corpo ter sido lavado e colocado no caixão.
(…)
Num extremo do cemitério, num local coberto de árvores,
tinham sido abertas duas enormes fossas. Havia a fossa dos homens e a das
mulheres. Sob esse aspeto, as autoridades respeitavam as conveniências, e foi
só muito mais tarde que, pela força das circunstâncias, este último pudor
desapareceu e se enterraram de qualquer maneira, uns sobre os outros, sem
preocupações de decência, os homens e as mulheres.
A evolução da epidemia no livro de Camus
Na primeira fase da peste, a reação das pessoas oscila entre
a inquietação e a confiança, acompanhada de uma data precisa, apesar de
ilusória, para a rendição da praga.
''Esse livro estonteante é uma clara e direta crítica ao nazismo e à ocupação militar alemã, que humilhou e subjugou os franceses. Camus participou da Resistência, grupo que se insurgia contra os alemães que ocupavam Paris. Escrito ao longo da guerra, com a expectativa que de que a aflição passasse um dia, A peste é uma lembrança de que o pior sofrimento um dia se acaba.''
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Leituras/A-peste-e-os-empesteados/58/47288
2ª ATIVIDADE
Procura, na leitura dos textos de A Peste, respostas às duas
questões colocadas:
1. Reflete sobre a relação das epidemias com os animais.
2. Encontra nos excertos uma semelhança e uma diferença com
a atual pandemia que vivemos.
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A pintura, como a literatura, também faz muitas vezes eco do
que se passa no mundo.
No século XVI, um pintor holandês eternizou o tema da peste
num quadro que integras as 50 pinturas mais famosas de sempre.
A composição denominada O Triunfo da Morte é uma pintura do
artista Pieter Bruegel, o Velho, que mostra a importância de ter sido um pintor
de miniaturas, ao agregar numa única tela inúmeras figuras, um fato comum nas
suas obras.
(Pormenores do quadro)
chegou ao fim. Enquanto o monarca agoniza, um esqueleto rouba-lhe as riquezas guardadas em barris. Nem mesmo os membros da Igreja estão a salvo. Nada escapa ao rigor da Morte.
https://virusdaarte.net/pieter-bruegel-o-velho-o-triunfo-da-morte/
DESAFIO: procura e aprecia a imagem do quadro completo de Pieter Bruegel, o velho, O Triunfo da Morte.
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