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Leitores de Segunda

 


“Leitores de Segunda” voltou a reunir para falar de livros e de autores. Desta vez contou com a participação dos alunos de 11.º ano de Literatura Portuguesa que partilharam as suas leituras. Falámos de muitos livros:

- “Bipolar, Sim. Louca, Só Quando Eu Quero”, de Bia Garbato, o qual ajuda a perder o medo de nos expormos. Através de histórias para ler, rir e chorar, a autora conta como o seu pai quis curar a sua euforia com chá de camomila e que escovar os dentes deprimida é mais difícil do que fazer rapel. Fala também de maternidade (sur)real, de relacionamentos e como perdeu 30 quilos encarando de frente a compulsão alimentar. O livro aborda assuntos delicados sem perder o bom humor. A autora explica como descobriu que a bipolaridade não a define e que ela pode ser, sim, muito louca. Mas só quando quiser. Um testemunho extraordinário sobre saúde mental e sobre como viver com a bipolaridade.

- “Tudo o Que Sei Sobre o Amor”, de Dolly Alderton, onde a autora explica como sobreviveu aos seus Vintes e nos apresenta uma descrição impávida dos encontros catastróficos e dos apartamentos miseráveis, dos desgostos de amor e das humilhações e, o mais importante, das inquebráveis amizades femininas que a ajudaram a aguentar-se. Um livro cheio de humor e perspicácia.

- “A vida depois da morte”, de Deepak Chopra, onde o autor faz uma viagem fascinante através de muitos níveis de consciência. Mas muito mais importante é a sua mensagem urgente: quem encontramos na outra vida e o que nela experienciamos reflete as nossas convicções, expectativas e nível de perceção atuais. Podemos moldar no presente o que nos acontece depois de morrermos. Este livro diz-nos que, afinal, não há separação entre a vida e a morte - há apenas um projeto criativo contínuo. O autor convida-nos a sermos co-criadores no domínio subtil e, ao compreendermos a realidade única, libertarmo-nos dos nossos medos irracionais e entrarmos no domínio sagrado do maravilhamento e do poder pessoal.

- “Prometo Falhar”, de Pedro Chagas Freitas, um livro sobre o amor. Um amor absoluto, total e que nos une ao outro. O amor romântico, o amor dos pais, dos amantes, dos irmãos, dos amigos. O amor que acerta e falha, que é felicidade e tormento.

- “Terra Sonâmbula”, de Mia Couto, que tem como pano de fundo os tempos recentes de guerra em Moçambique, do qual traça um quadro de um realismo forte e brutal. Dentro deste cenário de pesadelo movimentam-se personagens de uma profunda humanidade, por vezes com uma dimensão mágica e mítica, todos vagueando pela terra destroçada, entre o desespero mais pungente e uma esperança que se recusa a morrer.

- “Cuidado com os mortos-vivos”, de Alexandre Honrado, onde a personagem segue a pista dada por uma peça de puzzle e tenta introduzir-se nos segredos do BioDevelop, o laboratório biológico. Depois de muitos perigos, parece condenada à pior das sortes. É salva no último instante, mas do seu salvador, nem rasto.

- “Sonhar acordado”, de Filipa Matos Batista, um livro que foi criado para nos fazer sonhar. Porque todos nós - crianças e adultos - precisamos de acreditar no que é possível, mas também nos impossíveis que se concretizam quando decidimos construir um mundo melhor!

- “Almoço de Domingo”, de José Luís Peixoto, um romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. A leitura permite-nos acompanhar, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso. O cenário é o Alentejo da raia, o contrabando e a resistência perante a pobreza. A história faz um percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.

- “Luís de Camões. Fabuloso. Verdadeiro”, de Aquilino Ribeiro, um ensaio que proporciona uma visão abrangente e que celebra a genialidade de Camões, sem omitir os desafios pessoais que enfrentou. Entre o mito literário e o homem real destaca a grandiosidade da sua obra, numa época de grandes desafios e transformações. Uma dualidade que torna Camões uma figura fascinante e duradoura: um poeta de talento extraordinário que, ao mesmo tempo, foi visceralmente humano nos seus combates e triunfos.

- “Matarás um culpado e dois inocentes”, de Rodrigo Guedes de Carvalho, um livro que dá continuidade às “Cinco mães de Serafim” e que começa na tragédia em que uma irmã desaparece e as outras três são encontradas mortas. Durante cinquenta anos, ninguém consegue assegurar se se tratou de suicídio coletivo ou se foram assassinadas. E é quando a pequena localidade de Gondarém prepara uma homenagem às filhas da terra que chegam, finalmente, as respostas. Numa atmosfera de realismo mágico, somos envolvidos em meio século de História ibérica onde se cruzam emoção familiar, ideais políticos e fosso social, amor e amizades indestrutíveis. Com violência e misericórdia, é o relato cru de alguém que regressa e não vira a cara ao julgamento.

- “As Fúrias de Hitler”, de Wendy Lower, um livro que resulta de 20 anos de investigação sobre o Holocausto e é um relato impressionante sobre o papel de milhares de cidadãs alemãs nos campos de extermínio nazis, que deita por terra a ideia de uma certa passividade feminina na Alemanha de Hitler. Wendy Lower demonstra-nos claramente neste livro que as mulheres do Reich foram mais do que meras assassinas de secretária, enfermeiras, zelosas mães de família, esposas subservientes ou amantes de criminosos de guerra. O retrato convincente de uma «geração perdida» de mulheres, nascidas num país humilhado, sedento de glória e com o culto da violência, e que revela uma parte desconhecida da história do Holocausto.

Falou-se de outros livros que ficaram a meio da leitura porque o leitor também tem o direito de não ler, de abandonar um livro, de não gostar, de voltar a ler, porque ler tem de ser um prazer.

Foi uma partilha muito rica, onde não faltou a referência a outros livros e autores, ao cinema e também houve chá quente, bolos e bombons para reconfortar o corpo dos tormentos da alma a que algumas leituras nos conduziram.

O próximo encontro está marcado para janeiro. Boas Festas para todos os leitores!

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